segunda-feira, abril 19, 2021

The Funeral Blues - The Origin story: Part I


Quando vi o filme "Quatro Casamentos e um Funeral" numa das Salas de cinema Alfa, estava longe de entender a profundidade do poema declamado pelo John Hannah. Nesta fase da vida era uma miúda de quinze ou dezasseis anos com muito poucas preocupações e tempo livre a mais, pelo que tinha a cabeça ocupada com outro tipo de coisas. O que me fez ir ao cinema foi (pasme-se) a banda sonora. Isso mesmo, uma banda sonora encabeçada pela Pop orelhuda dos Wet Wet Wet, mas com muito mais para oferecer, desde Elton John a Gloria Gaynor e Barry White. Quem me conhece bem sabe que tenho uma colecção de discos de vinil de Bandas Sonoras desde a minha infância, porque comecei por pedir colectâneas de maneira a ter música mais variada e acabei por gastar todos os meus cheques-disco em Bandas Sonoras. Começando pelo Absolute Beginners do David Bowie e passando pelo Ghostbusters, Indiana Jones and the Last Crusade, entre muitos outros. Acredito que o meu gosto pessoal fosse irritante para os miúdos mais velhos do meu prédio, afinal eles já estavam na fase dos Xutos e dos the Cure e eu ainda a vibrar com os Queijinhos Frescos. 

Aos dezasseis anos comecei a cantar no coro da igreja, pois diziam que tinha boa voz, mas eu não percebia nada do assunto e levava tudo para a brincadeira. Era conhecida pelas minhas palhaçadas, disfarces e partidas entre os meus amigos, por isso não seria muito surpreendente que o meu primeiro casting surgisse de um convite para acompanhar uma colega de escola.
Fomos as duas participar do casting do Selecção Nacional por mera curiosidade. Não havia filas, o processo era bastante rápido, pelo que percebi.
E lá estava eu com a mania que tinha piada à frente do Zé da Ponte. "Então, o que trazes para cantar?" E eu respondi a rir "Pode ser a Casa Portuguesa?"...
E pronto, cantei com a mão na anca, armada em fadista de taberna e nem sabia a letra toda de cor, mas cantei o suficiente para arrancar uns sorrisos.
"Não sabes cantar, mas tens boa voz" - Ok, na boa! Não saí dali em lágrimas como se vê nos castings televisionados. Também não pensei mais no assunto, confesso.

Meses mais tarde a minha mãe recebe um telefonema da produção do Selecção de Esperanças e voltei a ouvir a célebre frase "Não sabes cantar, mas...". Desta vez foi o meu gosto musical que chamou à atenção. Perguntaram-me o que queria cantar e eu respondi logo que queria Heróis do Mar, o Fado. "Epa, essa não. Já temos uma dos Heróis." Então falei no António Variações. "Epa, já temos o Estou Além". Finalmente lembrei-me do Joana Rosa do Vitorino. E lá fui eu para o Porto.

Verdade seja dita...era de longe a pessoa que menos se importava com aquilo tudo e até o júri apontou isso durante o veredicto "És uma porreira!".
Concorri com gente linda nesse mesmo programa: a Patrícia (Karaoke do Café da Ponte), a Susana (Zana) e o Carlos (que depois viria a ser dos Excesso). Lembro-me de ter ido a uma discoteca com alguns dos concorrentes e o Mário Sereno na véspera da gravação do programa. Rebeldia vocal ao mais alto nível! 

Entretanto fiquei com o bichinho da televisão. Meti na cabeça que queria ser argumentista e passava horas a escrever à máquina (é verdade, não tinha computador). Foi então que decidi participar em programas como figurante, assim estaria mais perto da produção e veria como funcionava a máquina.
Durante um dos programas, um dos produtores questionou-me e às minhas amigas se estaríamos interessadas em participar num tal de Big Show SIC, onde havia um concurso de talentos com uma participação falsa (literalmente pediram-nos para dar barraca, cantar desafinado). 

Ok, isso parecia-me um desafio espectacular! Eu e uma grande amiga fomos "cantar" mascaradas  um tema das Shampoo, mas a ideia era berrar e ser foleiro ao máximo para depois ter alguém do júri a bater num "gongo". Porém, não houve gongo para ninguém, cantámos até ao fim e fomos elogiadas pelo júri e tudo. Mesmo com uma peruca loira, óculos de sol e T-shirt do Bart Simpson fomos levadas a sério.
Yep. Ladies & Gentleman, this is my origin story! 

A partir daqui nunca mais deixei de cantar.

Havia demasiada gente a dar-me alento e a puxar-me para a Música, ouvi muitos "És do Fado" e "És do Soul", "És do Rock", mas nunca soube muito bem onde encaixaria a minha voz, porque nunca tive a audácia de pensar que teria voz suficiente para me quererem ouvir cantar. 
E muito menos qual seria o meu registo, porque eu só sabia imitar e o meus gostos variavam entre Clássicos da Broadway, standards de Jazz, Rock "azeite" e pouco mais. Claro que duas das minhas maiores influências são o David Bowie e o Freddie Mercury, mas também era obcecada pelo Prince e pelo Terence Trent D'Arby. Em português ouvia muito a Adelaide, a Lena, o António, os Táxi e os Heróis do Mar. No meio disto tudo, a miúda de dezasseis anos sabia lá do que gostava de cantar. Cantava tudo o que me pedissem, tipo Jukebox. Por isso me tornei na vocalista ideal para tapar buracos...mas isto é para outro post, que este já está a ficar fora do contexto.

Continuemos...

 Na passada Sexta-feira, dia 16 de Abril, comemorou-se o dia Mundial da Voz e, como costume, as redes sociais inundaram-se de celebrações, iniciativas, vídeos e derivados. 
Eu era uma dessas pessoas que aproveitava o dia da Voz para me lembrar que a tenho, que tenho de a cuidar, que tenho de a usar...
Mas este ano não o fiz, porque senti um pesar enorme no meu peito. Um amigo perdeu alguém muito especial no dia anterior e senti necessidade de ficar em silêncio e de pensar na perda, na tristeza, no luto que não me permiti fazer...
Parei o relógio, o telefone...e lembrei-me do filme que me levou a cantar, pois foi nesse ano que nasceu alguém que não se deixou calar. 
E agora silêncio.


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