quarta-feira, abril 14, 2021

A bela arte da procrastinação

António Variações - É p'ra amanhã

"Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje"


Prometi a mim mesma que faria o esforço de manter este blog vivo, nem que seja para perpetuar os meus pensamentos para mais tarde recordar ou até para o meu filho conhecer esta minha faceta.

Mas quantas promessas fazemos nós, sabendo que nunca as cumpriremos? Quantos "Depois ligo!", "Um dia vamos beber um café!", "Fica para a próxima!" somos capazes de dizer sem sequer pensar muito no assunto? É quase como responder ao "Como estás?" com um "Estou bem...", mesmo com as vísceras de fora. 

Assim como a obstinação não define o vitorioso, a procrastinação não define o preguiçoso.

Podes até ser dedicado e trabalhador e não ser bem sucedido no que fazes, porque o sucesso é fruto de um conjunto de circunstâncias (talento, preparação, esforço, timing e predisposição). Confunde-se muitas vezes com sorte, porque de facto nunca se sabe quando perdemos uma oportunidade até a perdermos de vez. 

E agora perguntam vocês "O que isto tem a ver com música?". Não foi à toa que começou com o António Variações, queria mesmo partilhar convosco que perdi muito enquanto artista, cantora, etc. por não estar preparada para agarrar as oportunidades que me foram aparecendo. 

Fosse por ser muito jovem e meio perdida, fosse por estar apaixonada e "cega", fosse por ter aceite um emprego a tempo inteiro, fosse por me ter tornado mãe, etc.

"Quem não aparece, esquece"

A minha mãe é o maior animal social que conheço. O meu pai também era, mas à sua maneira...Jogava à bola, fazia almoçaradas...mas a minha mãe...não havia um dia em que não estivesse ao telefone horas com mais do que duas amigas diferentes e às vezes até parecia que viam a telenovela em simultâneo, juro que escutei muitas vezes a minha mãe a rir e a falar de uma cena na televisão agarrada ao telefone. 

A minha mãe sempre foi a minha fonte de ditados e provérbios preferida, porque tinha sempre uma estória por trás, não sei se era de sua invenção, mas de facto era mais eficiente ilustrar um ditado com um exemplo. E claro, este "Quem não aparece, esquece" era um dos que ela mais proferia. 

Confesso que na altura não percebi muito bem o que ela queria dizer com aquilo, em miúda pensava mesmo que significava que devíamos esquecer quem não aparecesse. Mas afinal não é bem isso, porque com a idade entendi que era um dos seus grandes medos, o de ser esquecida. Daí estar sempre tão presente na vida das amigas, de dar notícias todos os dias!

Bom, seja qual for o verdadeiro significado da expressão, penso que tenha um pouco a ver com o tema de hoje, a procrastinação.

"Don't you forget about me 

Don't, don't, don't, don't  

Don't you forget about me"

No mundo artístico existe uma espécie de amnésia colectiva, ou seja, se uma pessoa não aparecer tantas vezes (seja na televisão, nos palcos ou na "plateia"), acaba mesmo por ficar esquecida. Curiosamente, sinto que na era das redes sociais e do consumo ultrassónico é ainda mais difícil aparecer, ainda para mais quando estamos a viver uma crise no entretenimento como a que estamos a viver no último ano.

Agora não há agendas preenchidas nem fotos de backstage, mas será que há falta de oportunidades?

Vou deixar a questão em aberto, mas com a promessa de voltar a este assunto mais tarde e com bons exemplos de quem não procrastinou durante a Pandemia.


3 comentários: