Quando comecei a escrever neste Blog tinha uma mão à frente e outra atrás.
Literalmente. Mea culpa, claro. Quem me mandou tirar um curso por gosto (e do meu pai, ainda por cima)?
A vida dá muitas voltas e quando voltei ao ninho depois de um relacionamento falhado, o ninho estava em reconstrução, não havia sequer um ninho, um porto seguro, nada a que me pudesse agarrar. Para nem falar de objectos pessoais, esses estavam embalados numa arrecadação algures e sem acesso fácil.
Como recomeçar a vida de novo nestes moldes?
Felizmente houve quem me emprestasse o seu poiso por três meses e durante esse tempo jurei que me reconstruiria/regenerava.
Tinha deixado os palcos por amor, achava eu. Mas a minha paixão pela música era bem mais forte do que a dor da perda de um mundo infinitamente diferente. Isto quase parecia uma letra do Rui Veloso, não?
O mundo da música chamava-me...e eu em chamas.
Comecei aos poucos a revisitar lugares e caras conhecidas, a aparecer no meio de um meio que tão bem conhecia, mas que deixei sem pensar muito no assunto. Esse é que é o verdadeiro problema, quando fazemos algo sem pensar muito é porque estamos numa situação "Entre a Espada e Parede", não é?
Eu não pensei muito e escolhi a espada. Enterrei-a bem no meu ventre, de modo a morrer para a Música, o derradeiro gesto romântico que desesperadamente almejava na minha vida.
Mas agora, sem amor e sem música, pensei para os meus botões:
"Ah e tal, então o que é que há de novo?"
Faltava-me a música e não podia passar a vida no carro a ouvir o único CD que tinha no porta-luvas...
Decidi então comprar um portátil e uma Câmara Sony das mais baratitas, tudo a crédito e sem juros na Vobis (agora Worten).
A dita cuja. A primeira de...duas?
Catano, o telemóvel destronou mesmo estas câmaras...
Pormenor: não tinha internet! Resolvi o problema, frequentando lugares com Wi-Fi gratuito para conseguir ver os posts do Fórum Música, onde conheci praticamente quase todos os músicos com quem trabalhei (e trabalho!).
Para terem uma ideia, os spots de Wi-Fi gratuitos em 2006 eram pouquitos. Havia um na esplanada do Pizza Hut do Centro Comercial dos Olivais, onde comia meia salada da casa por 3,5€ e ficava a navegar na net até a bateria do portátil acabar. Lembro-me de ter o brilho do monitor no nível mínimo para conseguir estar mais tempo online.
E se acham que isto era maluquice minha, quando descobri que havia um Hot Spot no Casino de Lisboa, dei por mim a ir lá quase todas as noites e fui presenteada com grandes actuações e belos reencontros.
A ideia de começar a escrever sobre "La vida loca" surgiu exactamente aí, no Casino. Mas teria de explorar novos palcos para conhecer novas bandas. Até porque não se podia fotografar no Casino...
Ai o Speakeasy...e o Almirante...e o Studio 4...
e tantos outros mais...
Comecei também a escrever num Myspace (dedicado a músicos) e rapidamente descobri as maravilhas das gravações caseiras (o velhinho sm58 ainda mexia e esse estava ainda na bagageira do meu carro, tal como o tripé).
A vida era fácil, porque tinha toda a liberdade do mundo, não tinha horários para cumprir, mas ainda assim acordava cedo todos os dias e procurava emprego afincadamente. Ao mesmo tempo que investia numa carreira musical, fosse em que moldes fosse. Eu queria ser feliz! Quem nunca?
Mesmo cansada, lá ia eu ver bandas, chegava a ver duas ou três por dia...ninguém consegue fazer disto vida, pensava eu...
Acho que escolhi o negro de fundo já a pensar no luto do Blog.
Tão tristinho...tão Fado.
"Tens de arranjar um emprego!"
Curioso, foi precisamente em 2006 que concorri ao emprego que mantenho até hoje. Pensando bem, foi o que mais desejava na altura até ter outra situação "Entre a Espada e a Parede".
...e voltei a escolher a espada. Escolhi a carreira profissional. Embora tenha deixado a ferida aberta para saber o quanto preciso da música.
...e deixei o meu sangue, suor e lágrimas em cada palco que pisei...porque deixei de ser espectadora, embora convictamente addicted to live music.
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